Publicado em 26 de abril de 2023 | Categoria: Informativo, Notícias
Muitas notícias falsas têm sido veiculadas sobre a segurança e eficácia das vacinas contra a Covid-19 desde a aprovação dos primeiros imunológicos. Basta lembrar o folclórico efeito colateral que transformaria as pessoas em jacarés. A nova moda em fake news são as receitas de desintoxicação de doses recebidas que circulam na internet. Algumas dessas receitas prometem limpar o organismo, oferecendo um efeito “detox” com bloqueio da proteína S contida nas vacinas e com inibidores da RNA polimerase.
Importante esclarecer que intoxicações se referem ao conjunto de efeitos nocivos representados por manifestações clínicas (sinais e sintomas) ou laboratoriais que revelam o desequilíbrio orgânico produzido pela interação entre o agente tóxico com o sistema biológico. “Todas as vacinas disponíveis para uso, seja para Covid-19 ou para qualquer outra doença, foram aprovadas somente após uma serie de ensaios clínicos, onde a segurança e a eficácia são avaliadas, e por este motivo estão em pleno uso pela população. Ou seja, apresentam segurança e eficácia comprovadas”, explicam as farmacêuticas especialistas em imunização, Karina Chiuratto e Jordana Coelho dos Reis.
Elas alertam que a maioria dos registros de efeitos adversos das vacinas diz respeito a casos leves a moderados, e estes se resolvem em poucos dias. Os eventos adversos graves são raros. “Hoje, após mais de dois anos de utilização em larga escala por todo o mundo, esse perfil de segurança foi confirmado”, comentam. Os eventos mais comuns são dor no local da injeção e febre. Outros sintomas observados são aparecimento de gânglios, cansaço, mialgia, dor de cabeça e outros, que cessam em poucos dias.
As especialistas explicam que as vacinas apenas induzem a expressão de proteína S do SARS-CoV-2, nos primeiros dias após vacinação. “A proteína Spike gerada pelas vacinas fica no corpo em concentrações muito menores do que o próprio vírus induz durante a Covid-19. Permanecem no corpo apenas os anticorpos contra a proteína Spike gerados pela vacinação, que protegem o indivíduo contra os casos mais graves da Covid-19”, orientam. É importante lembrar que os casos mais graves da doença acontecem com maior frequência nos indivíduos que não tem esquema vacinal completo.
Ao contrário do esperado “efeito detox”, as receitas milagrosas podem, sim, causar intoxicações. Quem alerta é o farmacêutico José Roberto Santin, presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia (SBTOX) e coordenador do Grupo de Trabalho (GT) de toxicologia do CFF. “A maioria dos compostos presentes nas receitas detox apresentam produtos que podem ser nocivos aos seres humanos, podendo provocar uma série de efeitos indesejáveis. Ou seja, estas receitas perigosas podem provocar quadros de intoxicação para aqueles que as consumirem. Além de serem nocivas, é importante pontuar e esclarecer que essas receitas não interferem nas vacinas para Covid-19.”
Algumas receitas apresentam elementos à base de cloro e Ivermectina, à qual, durante a pandemia, foram atribuídas, também de maneira falsa, propriedades terapêuticas contra a Covid-19. “A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a Anvisa advertem contra uso de produtos à base de cloro e Ivermectina como medicamentos para tratamento de infecção pelo vírus em seres humanos”, alertam Karina Chiuratto e Jordana Coelho dos Reis.
“Com relação a Ivermectina, é amplamente conhecido que o uso inadequado ou descontrolado da Ivermectina, em particular, pode resultar em reações adversas graves ou fatais, como hipotensão, ataxia ou convulsões”, acrescenta José Roberto Santin. Ele ressalta que, desde que a Ivermectina foi mencionada pela primeira vez como um possível tratamento para Covid-19, em maio de 2020, houve um aumento nas notificações de reações adversas ao medicamento, relatadas aos centros de farmacovigilância. “Além de não ser eficaz, o uso off-label de Ivermectina pode ser prejudicial para aqueles que a utilizam”, reforça.
Para o toxicologista, é evidente neste contexto que não há fundamentos que sustentem qualquer uma das receitas detox. “E é igualmente claro que essas combinações podem causar efeitos adversos em indivíduos suscetíveis ou mesmo não-suscetíveis, dependendo das doses utilizadas. Essa é uma prática de curandeirismo baseada em princípios pré-científicos. É crucial que a população esteja ciente da gravidade dessas prescrições enganosas e do perigo de intoxicação que elas podem causar.”
Importante destacar os riscos da utilização de produtos que não têm registro na Anvisa. Esse registro é a garantia de procedência de qualquer substância com propriedade curativa a ser consumida em território nacional. Todo produto regularizado na Anvisa tem um número de registro na sua embalagem , No caso dos medicamentos fitoterápicos, esse número sempre começa com o número um e contém treze dígitos. Existe também a possibilidade de o rótulo possuir a frase “produto notificado na Anvisa nos termos da RDC nº 26/2014”.
Produtos contendo muitas plantas medicinais com substâncias ativas, indicados para muitas doenças diferentes e que agem em diversas partes do corpo, que não possuem nome do farmacêutico responsável e informações da empresa não são confiáveis. Em caso de dúvidas, acesse gov.br/anvisa e clique em consulta a registro de medicamentos.
Importante destacar, ainda, que, de acordo com a Lei Federal nº 6360/1976, a empresa fabricante de medicamentos ou produtos para a saúde deve possuir AFE (autorização de funcionamento), na Anvisa, e alvará sanitário emitido pela Visa estadual e/ou local. Isso vale para medicamentos fitoterápicos, alopáticos ou manipulados.
Medicamentos e outros produtos com propriedades terapêuticas somente podem ser adquiridos pela internet em sites de farmácias que possuem loja física e farmacêutico responsável técnico presente durante todo o tempo de funcionamento do estabelecimento.
Foto: Reprodução
Fonte: CFF
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